Quarentena
não poética
Perspectiva Semanal
Autora Convidada: Debora do Nascimento
01/06/2020
É o dia trinta e dez da quarentena
Com variações de muitos pontos percentuais pra mais ou pra menos a depender da posição
Social, política, econômica e fudida
Ainda não escrevi nenhum poema
Não fiz cálculo de produtividade, não me cobrei nem me culpei
Às vezes parece que vivo outro mundo
Mas já lavei louça, roupa
Fiz comida
Assisti live
Tirei pó
Cansei de tudo
Dormi sem banho
Chorei
Não tive tédio
Acho que gastei tudo entre 2011 e 2015
Enquanto rodava a esmo pela cidade fria pra ver bares fechados
Não produzi nada artístico incrível
Não senti falta de sexo
Mas senti solidão
Sou humanamente dentro das expectativas
Também humanamente resistente a elas
Dormi muito
E olhei pra telas sem nada ver, sem nada buscar
Ouço músicas com menos frequência do que pretendia
E reviro memórias por mais tempo do que gostaria
Tom Grito disse bem "sobram palavras e faltam sentidos"
Termino sem ter escrito um poema
Porque verborragia não é poesia
Por mais que queiramos que seja.
Ouça na voz da autora, Debora do Nascimento:
